No
mesmo momento em que celebrávamos a conquista do Campeonato da Europa de
Futebol, sendo consensual que um dos motivos que mais contribuiu para essa
conquista foi a união e o espírito de equipa, fomos brindados com uma zaragata.
Perante
a decisão do ECOFIN de avançar com um processo de sanções por deficit excessivo
em 2015, assistimos à emergência de um rápida barganha política com os partidos
responsáveis pela gestão orçamental em 2015, a acusarem o atual governo de não
ter sabido defender o país, nomeadamente o “legado que recebeu”. Supina
afirmação!
É
histórica a nossa capacidade de divisão interna, faz parte de uma
idiossincrasia doentia que há muito cultivamos com esmero, assim como a ideia
que os nossos políticos subordinam muitas vezes o interesse coletivo ao
interesse partidário e pessoal Este é um momento exemplar que prova como essas
asserções são verdadeiras.
Com
um argumentário que roça a indigência é difícil perceber como é que políticos acabados
de sair do poder e em que está em causa o resultado da sua ação se atrevem, com
uma velocidade estonteante e uma absoluta desfaçatez, ofender a nossa
inteligência, culpando outros por aquilo que fizeram, ou não fizeram.
Percebe-se
que há uma rede a nível das superestruturas europeias que trabalha contra o
atual governo e que a nível interno os partidos da direita, por ressentimento,
interesse partidário e sintonia com esses “donos” da Europa, se assumem como suas
correias de transmissão, praticando sem pudor a cizânia e fomentando a
instabilidade.
Tudo
isto é ainda mais desagradável porque havendo múltiplos e poderosos interesses
financeiros envolvidos, em que em última instância somos nós, simples cidadãos,
os impotentes peões de um jogo em que perdemos sempre, ouvimos lições de
sapiência da ex-ministra das finanças - que agora é deputada mas que tem alvará
de acumulação com a administração na Arrow Global, uma empresa britânica, gestora
de crédito, cuja atividade merece a pena conhecer -, sem perceber bem em que
condição está a intervir e que interesses está a defender.
Temos
suportado estoicamente anos de disparates de política económica e financeira
pelo que o mínimo que seria exigido, numa situação como esta, era que
prevalecesse o bom senso e que no mínimo guardassem de Conrado o prudente
silêncio, mas não, mesmo sabendo que com união ganhamos desatamo-nos a arranhar
em derrotistas zaragatas.
(Artigo
publicado nas edição de 14 de julho, do Diário de Coimbra)
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