Por
mera curiosidade, enquanto aguardava notícias das sanções que os nossos amigos
europeus têm vindo, com muito panache, a cozinhar, resolvi investigar (?)
quantos festivais de verão há por esse país. Mas, por impreparação, moleza
estival e porque são tantos, sob tão diversos formatos e apelativos slogans, achei um cansaço desnecessário
avançar no estudo da coisa e desisti.
Aliás,
uma atitude de ignorância é uma atitude inteligente porque basta ver, por
exemplo, quanto Sócrates, o filósofo, se mostrava inteligente ao afirmar que só
sabia que nada sabia, assim como Descartes que punha tudo em dúvida. Claro que
podemos ir pelo caminho da mistificação e arranjar umas flores inteligentes
para por na nossa jarra, assim como espetarmos um pin, com a bandeira nacional,
na lapela para nos mostrarmos patriotas, mas … peço desculpa distraí-me e
perdi-me.
Claro
que a dimensão e qualidade da oferta festivaleira, as praias paradísicas, a
quentura do sol e da água, a beleza do pôr-do-sol e aquele drink de fim de
tarde não deixam grandes energias para outras folastrias e muito menos para
preocupações, para mais quando vivemos uma democracia de espectadores e
consumidores, e, por isso, não nos preocupemos com essa coisa das sanções e das
ameaças dos burocratas europeus.
Claro
que uma Europa destroçada preocupa. Nas férias preocupa apenas um bocadinho,
depois na rentrée teremos tempo para vermos melhor como vão as coisas e
manifestarmos a nossa ira, se for o caso. Para já - boa praia.
Há
quem ainda argumente que nesta sociedade digital temos os instrumentos
necessários para fazermos ouvir a nossa voz e demonstrarmos que somos uma
comunidade consciente e participativa, capaz de iniciativas que demonstrem aos
tais burocratas e aos seus príncipes que não estamos dispostos a um tratamento
de menoridade e que somos cidadãos europeus de corpo inteiro, mas eis que chega
um novo e transcendente objetivo: caçar Pokémon.
Como
é que há tempo e disposição para pensar em sanções e orçamentos se temos
festivais e pokémon (não sei se isto tem plural) por todo o lado!? Isso é bom
para o Costa! O que interessa é não ter problemas com o smartphone porque é aí que se tem o mundo e, mais, a própria
realidade aumentada.
Estava
a terminar este escrito quando foi notícia da não aplicação de sanções. Boa
notícia. Lá se pode continuar a caçada os tais bichos virtuais, que não constam
do ”Livro dos Seres Imaginários” de Jorge Luís Borges, sem problemas de
consciência.
E,
como são férias, não chateiem e utilizem, sem rebuço, aquele ámen digital:
Gosto.
(Artigo
publicado na edição de 28 de julho, do Diário de Coimbra)
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