Em
2003 fomos ameaçados com um referendo ao projeto de cobertura da Baixa de
Coimbra (ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz), pelo executivo municipal de
então. Como se viu não passou de um anúncio inconsequente, determinado pelo
desespero político que, como se sabe, não é bom conselheiro.
Agora,
enquanto se desenrolava a campanha referendária no Reino Unido, voltou à baila
a ideia de um referendo sobre a construção da Via Central. Isto da Via Central,
é uma ideia que há décadas faz parte do imaginário conimbricense e que nos
últimos anos foi sendo esboçada no âmbito do traçado para o metro ligeiro de
superfície.
As
confusões e os descarrilamentos do metro paralisaram as obras já iniciadas e a
Baixa, que foi vendo a Alta voltar-lhe sorrateiramente as costas, ficou com mais
uma grave ferida exposta. Depois do Bota Abaixo de má memória, a Baixa viu-se,
assim, a braços com mais um buraco a necessitar de tratamento urgente, através
de uma operação de limpeza dos tecidos mortos, seguida de uma competente
cirurgia estética
Ora,
é neste contexto, em que a Baixa grita angustiada por uma rápida intervenção
requalificadora, que surgem renovadas polémicas sobre a Via Central e a
proposta de um referendo à sua execução.
Acredito
na bondade dos proponentes e nas suas preocupações quanto ao mérito da
intervenção mas, sinceramente, tal como aconteceu com o referendo britânico
parece-me que um processo desta natureza, no estado da arte em que nos
encontramos, seria, se realizável, muito mais contraproducente do que favorável
à causa da reabilitação da Baixa, no seu todo.
Reivindicar
energicamente uma intervenção de qualidade, esse, sim, parece-me ser o bom
combate, que estou certo merecerá a consideração e o apoio de todos, tanto mais
que não acredito que o presidente da Câmara, seja ele quem for, perante uma
intervenção desta dimensão e importância, não seja o primeiro a desejar uma
obra asseada que faça perdurar, de forma positiva, a sua memória na cidade.
Este
é mais um caso que me faz interrogar sobre a ação política numa cidade, que,
tendo um enorme potencial de reflexão e conhecimento, que tem tanta gente boa e
altamente qualificada e que tendo tantos problemas para resolver, passa a vida
enredada em questiúnculas, agastamentos e desanimadoras controvérsias.
Tristemente,
hoje, Coimbra é muito mais uma Lusa Bizâncio do que uma Lusa Atenas, que se dá
ao luxo de andar entretida a discutir permanentemente o já discutido, para mais
sob o signo de incompreensíveis referendos.
(Artigo
publicado na edição de 30 de junho, do Diário de Coimbra)
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