Coimbra
é uma cidade de desperdício, uma cidade perdulária. Uma cidade de desperdício
daquele que é sem dúvida um dos maiores e mais imprescindíveis bens ao seu
progresso e desenvolvimento – o desperdício da sabedoria e da experiência.
Com
uma acumulação de séculos de capital intelectual, obra de sucessivas gerações
de académicos, cientistas, investigadores, artistas e artesãos e de mulheres e
homens bons que lhe votaram uma dedicação permanente, Coimbra não tem sabido
aproveitar e fazer render esse fantástico património.
Uns
atrás de outros vão cessando a vida ativa sem que o seu capital de sabedoria e
experiência seja aproveitado em benefício de uma cidade que amam e a quem
poderiam dar com satisfação, sem exigências de pagamento ou compromissos
espúrios mas com total liberdade, contributos determinantes para evitar erros e
más decisões e sobretudo perspetivas de futuro pela capacidade de lerem os
pequenos/grandes sinais que só a sabedoria ensina a conhecer.
Fica-se
jubilado, passa-se a aposentado ou reformado e acabou-se. Num determinado dia e
hora deixou-se de contar e tudo aquilo que acumularam e que é intransmissível
fica no limbo sem proveito e sem aproveitamento.
Conscientes
de que os problemas surgem inopinadamente e que há uma procura de remediar as
coisas mais urgentes, acabamos por nos concentrar em questiúnculas sem mérito e
sem interesse e não somos capazes de identificar os problemas-chave, o que
poderia ser evitado e ultrapassado se houvesse capacidade de ouvir e acolher o
conselho e as sugestões daqueles que possuem a preciosa acumulação de
conhecimentos e de saber e que estão confinados a um inconcebível esquecimento.
Organizações,
cidades e países mais desenvolvidos criaram espaços de reflexão, uns chamados
think-tanks em que contam com a participação de stakeholders, como para aí se
diz em jargão tecnocrático, conseguindo assim decisões melhores e de mais larga
visão.
Pois
é, digam-me que cidade deste país com idêntica dimensão tem disponível tanto
ilustre cidadão, detentor de conhecimentos e de sabedoria, sem interesses
particulares, e suscetíveis de serem envolvidos em reflexões prospetivas e de
interesse coletivo, como Coimbra.
Coimbra
é, sem dúvida, uma cidade que não tem sabido aproveitar esta enorme riqueza,
que poderia ajudar a definir desígnios de futuro e sonhos de vida coletiva, com
inteligência e sem a tacanhez dos pequenos e efémeros poderes que a vão
minando.
(Artigo
publicado na edição de 10 de março, do Diário de Coimbra)
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