Um
dos perigos associado à mobilidade elétrica é o silêncio. Habituados, como
estamos, ao barulho dos motores a combustão evitamos instintivamente situações
de risco de atropelamento ou de colisão. Com o silêncio da mobilidade elétrica
vamos ter de reconfigurar os nossos alertas e os nossos mecanismos de defesa e,
por isso, o silêncio tantas vezes abençoado acaba, assim, por representar um
perigo.
Perigo
que é igualmente notório quando assistimos silenciosos a uma reconfiguração, ou
melhor ao acentuar de uma configuração, do nosso território com o esvaziamento
e estrangulamento do centro do país em que nos inserimos.
Incapaz
de uma consequente afirmação de liderança regional, Coimbra vai assistindo ao
estreitar do seu espaço de influência e ficando cada vez mais confinada ao seu território
municipal. Também aqui o silêncio sobre este assunto, particularmente dos
partidos e forças políticas, que têm a responsabilidade democrática de se
baterem pela coesão territorial, económica e social do país, tem-se constituído
num perigoso handicap ao nosso desenvolvimento e ao nosso futuro.
Os
partidos políticos tendem a ser cada vez mais centralistas e as lideranças
locais cultivam diariamente o sonho de rumar à capital, à grande política e aos
holofotes mediáticos que aí estão instalados. Aliás, cada vez me convenço mais
que os líderes emergentes o que desejam mesmo é a manutenção de uma mini
Coimbra provinciana para fugirem daqui, com naturalidade e sem problemas de
consciência.
A
política local tende, portanto, a ser cada vez mais um incomodo necessário, a
que acresce um esvaziamento de valores e um acrescento de disputas mixurucas,
de pequenos golpes e de ataques pessoais. É a guerra do barulho em busca dos
pequenos tronos em que se assumem guerreiros que mostram uma capacidade de
combate aos seus correligionários que nunca mostraram relativamente aos seus
adversários.
Piores
do que famílias disfuncionais são, em vários casos, coletivos de intriga e de
maledicência, sabendo-se que muitos dos seus membros são hoje acusadores dos
mesmos condenáveis atos que praticaram com mérito no passado.
O
aviltamento da política local através de um barulhento combate público sem
ideias e de índole pessoal ou de grupo é um enorme risco de que se colherão as
consequências, concretamente quando se disputarem as próximas eleições
autárquicas, para mais tendo em conta o nível abstenção e fragmentação política
verificadas nas últimas.
O
silêncio e o barulho são, assim, dois perigosos irmãos, que alimentamos de modo
suicidário porque todos sabemos que com eles estamos a caminhar para a derrota.
(Artigo
publicado na edição de 24 de março, do Diário de Coimbra)
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