Há
várias formas de nos apresentarmos e outras tantas de sermos apresentados. Nós;
as nossas casas – é sabido que as paredes dos prédios são a pele dos seus
moradores -; as nossas cidades; etc.
Há
uns anos apareceu um painel informativo na A1 a sinalizar Coimbra com Cidade
Museu. Não se percebeu como é que a Brisa chegou àquela conclusão, mas também
ninguém quis saber, e houve de imediato um enorme clamor que levou à retirada
dos painéis. A ideia de museu até poderia ser bondosa, ancorada numa visão de
um espaço arquitetonicamente rico e simultaneamente cheio de vida em que
acontecem coisas culturalmente interessantes, mas não era essa a visão da
maioria dos cidadãos e por isso a ideia foi de imediato rejeitada.
Não
se admitia a ideia de uma cidade estática ainda que as criticas e os temas das
tertúlias locais fossem recorrentes na afirmação de que a modorra tinha aqui
uma das suas sedes, e houve que avançar uma alternativa tendo surgido a ideia
salvadora da Cidade do Conhecimento.
Só
que muitas vezes não é fácil vender certas ideias, particularmente num tempo de
sobrevalorização da imagem, quando depois de ler o “cartão de apresentação” não
se consegue encontrar uma clara correspondência na realidade.
Aliás,
um dos dramas lusitanos tem a ver com o cartão de cidadão em que fomos tornado
no povo mais feio da Europa e arredores, com aquelas fotografias em que para
além de nos despirem dos óculos, quem os tem é claro, dá, a todos, uma imagem
de inaudita fealdade.
Habitantes
de uma cidade também podem ser vistos, por quem chega, sob uma ótica referida
por Marcel Proust: “As estações ferroviárias… não constituem, por assim dizer,
parte da cidade, mas contêm tanto a essência da sua personalidade, como o nome
pintado no letreiro”, o que se confessa não nos mostra lá muito jeitosos.
Assim
os pontos de chegada e as entradas da nossa cidade são sempre um dos cartões de
apresentação de algo não abstrato mas da cidade e dos seus habitantes – de
todos nós.
Ora
será que quem chega a Coimbra nos vê como um coletivo de sábios e em que
observa em cada esquina o conhecimento a escorrer pelas paredes dos edifícios?
Não sei!
Há
uns anos o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, deu pública nota
que iria oferecer a Coimbra uma estátua para embelezar a grande rotunda na
entrada sul de Coimbra, junto ao Parque Verde. Isaltino foi para a prisão e a
estátua nunca chegou. Foi pena. Quem nos diz que não teria sido uma
interessante obra de arte e um simpático cartão de apresentação.
(Artigo
publicado na edição de 7 de abril, do Diário de Coimbra)
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