Uma
das condições essenciais ao sucesso do nosso futuro coletivo é dispormos de
instituições fortes e prestigiadas. É por isso preocupante que tenhamos vindo a
assistir à degradação de algumas instituições da nossa cidade.
Independentemente
do interesse que se possa ter pelo futebol a verdade é que ele é uma das
grandes indústrias globais, com um extraordinário impacto económico e uma importante
envolvência social e política.
Em
Coimbra temos o privilégio de ter uma relevante instituição desportiva – a Académica/OAF
– que, independentemente do percurso das últimas décadas, é herdeira de uma
história que muito nos honra e de uma tradição que incorpora muito do melhor
que nós fomos no século passado. É por isso preocupante assistir à sua
degradação institucional, que se vem acentuando ano após ano e que acaba por se
refletir no afastamento de sócios e simpatizantes e nos sofríveis resultados
desportivos.
Obviamente
que o processo de ajustamento a uma nova realidade social, política, económica
e desportiva obrigaria a uma enorme transformação relativamente aos seus tempos
dourados, que ainda perduram na memória e no coração de uma parte significativa
dos seus sócios e simpatizantes, sendo fundamental manter e cultivar um
conjunto de valores que vão muito para além do tradicional “canelão”.
Nos
tempos que correm são os resultados desportivos que determinam o interesse e a
avaliação, quase sempre determinada pela paixão, do mérito da gestão e que suscitam
reações, sobretudo criticas quando as coisas não correm bem. O problema é que
este olhar tem sido circunstancial e a Académica/OAF tem tido à sua frente quem
os sócios escolheram, esquecendo que o caminho que trouxe até aqui foi iniciado
há cerca de uma década e meia e que teve um momento crucial de enorme gravidade.
Foi o momento perverso em que futebol e política se entrelaçaram de uma forma
despudoradamente explícita, quando o presidente da Câmara de então nomeou
diretor municipal do urbanismo o seu presidente.
Foi
um erro tremendo, de duplo oportunismo, que se tornou num abcesso que infetou a
vida de uma instituição desportiva de valores singulares e que apenas dois ou
três denunciaram, tendo vindo a pagar política e socialmente por essa ousadia.
Foi
um jogo de ganha/perde que colocou a Académica/OAF num beco de difícil saída,
que deve servir de lição e que deveria levar a que muitos, com relevantes
responsabilidades coletivas, se penitenciassem, porque foram promotores ativos
da degradação de uma importante instituição da nossa cidade e se limitaram a
lavar as mãos como Pilatos.
(Artigo
publicado na edição de 25 de fevereiro, do Diário de Coimbra)
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