Em
política não há vazios nem intervalos. Conseguido um governo improvável e um
presidente da República previsível, é tempo de, por boas e imperiosas razões,
começarmos a utilizar a nossa inteligência e gastarmos as nossas energias a
olhar politicamente para a nossa cidade.
Decorrido
meio mandato autárquico e tendo consciência da que vai acontecer uma aceleração
da atividade político-partidária é prudente começar a interrogar e a escutar
porque, como diz Francesc Torralba “a arte de escutar exige tempo”.
Decorrida
década e meia deste complexo século XXI ao olhar, de dentro, Coimbra fica-se
com a sensação de que se mantêm as interrogações essenciais que há muito nos
atormentam: O que queremos ser? Para onde queremos ir? Que caminho temos de
percorrer?
Questões
permanentes mas que merecem convincente resposta atempada tendo em conta os
ciclos políticos e de governo da cidade. Questões que imbricam com a realidade
desconfortável de uma abstenção obscena nas eleições autárquicas numa cidade
como Coimbra e na perceção – porventura bem real – de uma decadência política
por ausência de participação partidária qualificada e da inexistência de novas
lideranças leais à cidade e a ela dedicadas de alma e coração.
Na
verdade precisamos de uma comunidade de confiança que nos motive a continuar a
dizer com orgulho que somos de Coimbra em que acreditamos, e que estamos
dispostos a trabalhar coletivamente pelo seu sucesso, o que pressupõe a
existência de objetivos comuns e não de um contencioso interno que apenas
implica desgaste de energias e de vontades.
As
últimas eleições – legislativas e presidenciais – ensinaram-nos muitas coisas e
demonstram-nos que há na nossa sociedade um enorme défice democrático que nos
deve levar a relembrar a afirmação de Péricles: “Distinguimo-nos de outros
Estados ao considerar inútil o homem que se mantém afastado da vida pública” e,
consequentemente, a tudo fazer para trazer à “vida pública” os nossos
concidadãos.
Coimbra
tem uma dimensão e uma qualidade humana que permitem, com inteligência, vontade
e persistência, encontrar bons caminhos de futuro, mas precisa de se
reorganizar internamente, sobretudo a nível político, incentivando o
aparecimento de novos e qualificados protagonistas, capazes de perceberem o tempo
presente, de percecionarem o futuro e que tenham presente a carta envida em
1426 de Bruges, pelo Infante D. Pedro Duque de Coimbra, ao seu irmão o rei D.
Duarte.
Vamos
a isso!
(Artigo
publicado na edição de 28 de janeiro, do Diário de Coimbra)
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