Há
por aí um livrinho “Allegro ma non troppo”, com dois deliciosos ensaios, da
autoria do já falecido historiador económico italiano Carlo M. Cipolla, que não
só se lê de um fôlego como dispõe bem, o que nos tempos que correm não é coisa
pouca.
Mas
por que é que me fui lembrar desse tal livrinho? É que a importância da pimenta
e a estupidez humana são dois dos assuntos ali tratados e muito francamente
parece-me que há uma atualidade que apela a esses temas. Vejamos a questão da
pimenta. Não se trata do seu uso culinário mas acreditando, como refere
Cipolla, que ela é um “poderoso afrodisíaco” não podemos deixar de equacionar o
seu uso face à atual baixa taxa de natalidade, assim como é evidente que a vida
social de Coimbra precisa de ser apimentada.
Atente-se
nos títulos de primeira página dos nossos jornais. Há praticamente todos os
dias sangue a esguichar nas gordas, o que dá uma imagem muito primária, rude e
provinciana da nossa vida social. Falta-nos, sem dúvida, sofisticação e
cosmopolitismo e por isso acabamos por ficar no crime e não nas retocadas
revistas cor-de-rosa. É necessário e urgente um upgrade malandro senão não
passamos da cepa torta e por mais que tentemos nunca chegaremos à capital do
reino e às suas centrais de informação.
Aliás,
quem não está de acordo com a utilidade de um escandalozito periódico, uma
coisa soft mas boa para conversa no café, no cabeleireiro, no autocarro, no táxi,
etc. É verdade que tem havido algumas tentativas, mas tímidas e mal exploradas.
Há dias foi notícia que alguém da administração do Metro Mondego tinha pago com
cartão da empresa ”atividades” realizadas no Elefante Branco, em Lisboa. Tendo tudo
para animar a malta acabou por morrer, sem honra nem glória, até porque muita
gente não sabe o que é o Metro Mondego e pensa que o Elefante Branco é um
paquiderme do jardim zoológico. É, pois, preciso e urgente apimentar a coisa
senão não vamos lá!
Claro
que quando se fala no Metro Mondego há logo quem se incline mais para o tema da
estupidez humana, e aqui está a outra razão que levou a pensar no tal livrinho.
Sendo
um processo que ultrapassa a ficção e cuja explicação só é possível de
encontrar num contexto de surrealismo político e técnico, não deixa, contudo,
por diversas razões, de envolver uma significativa pitada de estupidez humana.
É evidente que estamos perante um caso de estudo que mereceria a atenção de Cipolla
(historiador económico) se ainda fosse vivo, mas não sendo isso possível a
verdade é que podemos, sem grande esforço, encontrar nas suas Leis Fundamentais
da Estupidez Humana espaço de enquadramento para perceber muito do que tem
acontecido.
Façam
favor de ler o livro! Ppara aguçar o apetite deixo-vos tão só a Primeira Lei
Fundamental: “Cada um de nós subestima sempre e inevitavelmente o número de
indivíduos estúpidos em circulação.”
(Artigo
publicado na edição de 18 de junho de 2015, do Diário de Coimbra)
Sem comentários:
Enviar um comentário