Num
tempo de tanta fala apetece acompanhar Talleyrand na afirmação de que: “A
palavra foi dada ao homem para disfarçar o próprio pensamento.” Com efeito
ouvem-se permanentemente coisas extraordinárias a respeito de tudo,
particularmente no contexto das disputas partidárias que antecedem as eleições,
que não se pode deixar de desconfiar de que muito do que se diz pretende
disfarçar o que se pensa.
Mas,
mais interessante ainda é, neste mesmo momento de intenso falatório, estar
atento ao que não se diz, porque é ai que se escreve parte da história do
futuro. Na verdade os atores políticos revelam muito do seu mérito na habilidade
com que omitem as suas intenções deixando nos seus programas eleitorais buracos
programáticos dignos de um verdadeiro queijo suíço, camuflados, normalmente,
por longas e gongóricas divagações político/filosóficas.
Diga-se,
contudo, que por vezes há surpresas como aquela com que o primeiro-ministro
recentemente nos brindou, quando afirmou que no programa eleitoral que irá
subscrever não constará qualquer proposta relativa à segurança social. Ora esta
omissão deliberada e declarada, numa das matérias mais importantes num programa
de governo para o próximo mandato, por parte de uma aliança partidária que é
governo e que pretende continuar a sê-lo, não pode deixar de ter uma leitura
condenatória dado que ninguém acredita que não haja por ali ideias sobre a
matéria.
O
que esta decisão obviamente revela é o medo de um elevado custo eleitoral por
parte de alguém que um dia se vestiu de estadista e que garantiu em voz alta que
se estava marimbando para eleições. A pouco e pouco e agora decididamente, o
estadista acidental eclipsou-se.
Mas
a omissão não se circunscreve a um único pecador. É, como sempre foi, uma parte
significativa do jogo político em que também os eleitores entram cada vez mais,
abstendo-se de participar na vida cívica e nos atos eleitorais, com a agravante
de que acabam por ser eles os mais penalizados. Aliás para alguns políticos a
omissão dos eleitores é a sua sorte grande porque só por essa razão acabam por
existir.
Sendo
a omissão um pecado, em termos religiosos, é também um ato profundamente
censurável em termos políticos que dá origem, regra geral, a muito do penar
quotidiano com que nos confrontamos.
Dizia
o Padre António Vieira da Companhia de Jesus e Pregador de S. Majestade, num
dos seus sermões que a: “Omissão é um pecado que se faz não fazendo.”
Ora
assim sendo será melhor não pecarmos fazendo qualquer coisa, nomeadamente penalizando
os omissos que tantas vezes nos estragam os sonhos e nos envenenam a esperança.
(Artigo
publicado na edição de 4 de junho de 2015, do Diário de Coimbra)
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