Há
uma elaboração filosófica sobre milagres na qual não vou envolver, nem tão
pouco em questões de índole religiosa, se bem que me lembre frequentemente de Juliano, de Gore Vidal e pense como eram
felizes os Gregos, que hoje se vêm gregos com os problemas da desumanidade do todo-poderoso
deus-dinheiro, quando os seus deuses tinham os mesmos defeitos dos humanos.
Mas, adiante.
Agora
que não é possível viver sem tropeçar permanentemente em milagres, lá isso não
é. Não daqueles milagres que a Igreja analisa e valida, mas dos outros que se
tornaram companheiros diários e que se manifestam nas mais diversas áreas. Por
exemplo: o golo do Belenenses ao Porto, no passado domingo, foi um verdadeiro milagre
para os benfiquistas, assim como a manutenção da Académica também foi um milagre.
Bem
pode o José Viterbo argumentar com horas de estudo, ponderação, treinos, opções
táticas, trabalho psicológico, escolha de jogadores, etc. que para os adeptos o
que aconteceu foi um milagre. Mais ainda, numa análise mais fina, foi um
milagre em que está envolvido o seu bigode e que agora lhe exigem como troféu.
Aliás, estou convencido que o humilde e generoso José Viterbo terá exclamado:
“Graças a Deus!”, quando viu a manutenção assegurada, o que significa crédito
ao divino e milagre consumado.
Frequentemente
fazemos promessas na expectativa de conseguirmos a realização de milagres, ainda
que haja milagres impossíveis e como tal promessas desnecessárias. É o caso de
um governo maioritário formado pelos partidos de esquerda. Esse, que seria um
grande milagre é um milagre impossível e por isso não merece a pena fazer
promessas, por mais heroicas que sejam.
De
igual modo, apesar das maldades e das diabruras que vão fazendo um ao outro,
também seria um milagre que os partidos de direita no governo não se
entendessem e coligassem de forma irrevogável. Também neste caso não há nada a
fazer, há por aqui uma forte cola de contacto que resiste a qualquer milagre.
Mas
estas exceções só confirmam a regra - a cultura do milagre faz parte da nossa
idiossincrasia. Não acreditamos na organização e no planeamento gostamos de
resolver as questões de forma milagreira. Dizia Einstein que: “Há duas formas
de viver a vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar
que todas as coisas são um milagre.” Nós somos adeptos da segunda, respeitando, obviamente, o provérbio: “ A
gente conta o milagre mas não diz o nome do santo.”
Já
viram o milagre que é de, apesar da imagem tão pouco positiva da atividade
política, assistirmos ao aparecimento de tantos novos partidos e de tantos
candidatos presidenciais?!
(Artigo
publicado na edição de 21 de maio de 2015, do Diário de Coimbra)
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