Não
há campanha eleitoral sem promessas irrevogáveis, propostas mais ou menos
detalhadas, projetos salvíficos e declarações entusiásticas. Por isso vamos ter
um menu completo com todos estes ingredientes, para além daqueles desagradáveis
que vão aparecer, fruto da propensão para o disparate e para a asneira que
nestas ocasiões irrompe com particular evidência, muitas vezes de onde menos se
espera.
A
novidade que seria importante introduzir no discurso e na afirmação política é
um valor frequentemente desprezado e raramente enunciado: a lealdade. Lealdade
para com o país, para com os cidadãos, para com os eleitores e para com as
instituições. Aliás, a deslealdade em política é uma prática tão comezinha que
só o uso da palavra lealdade provoca pele de galinha em muito boa gente.
Num
tempo de tão rápidas transformações, de tanta imprevisibilidade e de tantas
condicionantes os eleitores, sem deixarem de esperar promessas e palavras de
esperança querem, sobretudo, respeito e lealdade. Sabem que não há ciência
exata para o futuro e que também não há leitura nas estrelas, nas cartas ou nos
búzios, que garanta a resolução dos problemas extremamente complexos que se
enfrentam. Não é possível, nos tempos que correm, estar cego perante a
imensidão das limitações, por isso não merece a pena apostar na mentira que faz
virar as costas a uma participação cívica de valor acrescentado, neste que é o
grande momento democrático em que o voto de um qualquer Silva é tão importante
como o de um Coelho, ou de um Espirito Santo.
Hoje
a política está em reconstrução, já não vive de visões messiânicas ou encarna
um heroísmo grandiloquente, é muito mais um campo de frustração e de deceções,
que para não entrar em crise absoluta exige, pelo menos, alguns valores
essenciais e o mais linear, mais simples e mais valioso é obter garantia de que
os atores políticos se comprometem a ser leais para com os seus concidadãos.
A
maioria dos eleitores, mais do que o país por si sonhado, procuram o país
possível e por isso ao exercerem o seu direito de voto merecem dos eleitos a
lealdade da sua ação política, o que significa: verdade, honestidade e
transparência nos seus atos e nas suas palavras. A lealdade é, sem dúvida, uma das
grandes inimigas da hipocrisia, da demagogia e do farisaísmo que são a imagem
recorrente dos políticos e o garante do descrédito da política.
“Afirmo
solenemente, por minha honra, que cumprirei com lealdade as funções que me são
confiadas” não pode ser uma ladainha de fecho de cerimónia mas o começo de uma
relação de confiança, que implica esclarecimento das condicionantes e
consequências das decisões que nos comprometem com o futuro.
O
truque da biografia desleal para dar conta de deslealdes é não só um acabado
exemplo de hipocrisia mas também uma demonstração de que não há por ali
evidência de lealdade futura para com quem quer que seja.
(Artigo
publicado na edição de 7 de maio de 2015, do Diário de Coimbra)
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