Pelo
São Simão, que se celebra nos finais de Outubro, têm lugar as ditas feiras dos
passados. São feiras tradicionais em que predominam os frutos secos e não
quaisquer outros produtos, que alguma mente mais perversa possa estar a
imaginar e que de resto não honrariam o apóstolo Simão, o Zelota.
Nessas
feiras, de que tenho memória desde a minha infância, é habitual aparecerem à
venda sorvas, fruto que pela surpresa dos meus amigos quando lhes faço
referência me leva a concluir é pouco conhecido. Aliás, nem o termo sorvado,
ponto em que devem estar as sorvas para serem comidas (veja-se a coincidência),
não é muito da conversa comum.
As
sorvas também são conhecidas por nêspera alemã – a planta que dá as sorvas é da
família das rosaceae e de nome mespilus germânica o que explica a designação -, e a que os
franceses, numa terminologia popular que tem a ver com a sua imagem e que me
abstenho de traduzir, chamam “cul de chien”.
Aconteceu-me
este São Simão, numa feira dos passados, e depois de uma conversa com uma
vendedeira, que me explicou a técnica adequada ao amadurecimento das sorvas, ser
atingido, repentinamente, ia a dizer como Saulo de Tarso, pela imagem de que
aquele cesto de sorvas, que estava á minha frente, representava uma reunião de
conselho de ministros do atual governo. Era uma verdadeira metáfora frutícola,
se é que isto existe, do governo, que ali estava exposta ao olhar dos passantes.
Contive-me
no anúncio desta visão, até porque não quero ofender as sorvas, nem desmotivar
o seu consumo, mas um fruto que tem reminiscências alemãs e que só é bom quando
está podre (bem sorvado), não há dúvida que tem tudo para ser o ex-libris de um
governo de obediência germânica, em decomposição.
Ali
estavam, amontoados, numa cesta artesanal, o Passos, o Portas, ministros e
secretários de estado, bem sorvadinhos, à espera de serem comidos numa feira
popular.
Rezo
para que as sorvas perdoem este atrevimento de tão mal as comparar e que São
Simão não vire as costas às minhas e vossas aflições, bem pelo contrário, que
resgate a imagem das sorvas, as deixe para exclusivo prazer do nosso palato, e
que para o ano este governo de sorvas seja apenas uma má memória de tempos
passados.
(Artigo publicado na edição de 6 de novembro de 2014, do Diário de Coimbra)
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