Eu
já desconfiava, mas esperava pela evidência científica que certifica as
perceções. O outono é uma estação do arco-da-velha. Nunca se sabe bem como
começam e acabam os dias. Há uma irregularidade meteorológica que nos espevita
a falar ainda mais do tempo ao mesmo tempo que as moscas adquirem uma moleza
irritante, que as fazem parecer moscardos em traseiro de boi.
Como
dizia, a minha desconfiança sobre o outono (a propósito não esquecer de ler ou
reler o “Outono do Patriarca” de Gabriel Garcia Márquez), hoje mais do que
nunca, vem a ser confirmada e a imprevisibilidade atmosférica transmite-se à
política com as proporções do ébola. É por esta altura que se ouvem os
primeiros trovões e não há melhores instrumentos para perceber o que se passa,
o que se vai passar e o que fazer, até em termos políticos, do que recorrer ao
“Borda d’Água” ou ao “Seringador”.
Mas
por quê trazer para aqui esta outoniça questão? É simples. É que sente-se
emergir - com inusitada força -, a influência do tempo, dos astros e da tolice
política, traduzida em sucessivas trapalhadas e fazendo adivinhar novas e ainda
mais caricatas situações num futuro próximo. Não basta o que se tem vindo a
passar na Justiça e na Educação para se perceber que em 2015 iremos ter, em
todo o seu esplendor, uma enorme confusão com o IRS.
O
problema nem é de opções políticas e da sobrecarga tributária sobre o trabalho
e a anorética classe média, é estarmos perante uma tentativa de camuflagem, com
uma anunciada solução de “IRS à la carte”, as maldades contidas na proposta de
orçamento, sem a mínima consciência dos problemas e dos verdadeiros dramas que
vão ser criados na próxima declaração de IRS. É mais uma iniciativa
experimentalista que nos vai continuar a tratar como ratinhos cobaias e não
como cidadãos respeitáveis.
Não
há dúvida que o este outono anuncia, cada vez com mais clareza, o ocaso deste
governo, que vai caindo, sem honra nem glória, graças às suas próprias
contradições internas e à ausência de um verdadeiro conhecimento da comunidade
a quem deveria estar ao serviço.
Aliás,
num tempo em que tanto se discute a praxe académica, talvez fosse uma boa ideia
praxar os membros do governo para, de acordo com os defensores desta prática,
os integrar no país. Pô-los, por aí, pintalgados, a rastejar, a chafurdar na
lama e a cantar obscenidades em subserviências ridículas, talvez fosse uma
ideia louvável, contudo, já não se vai a tempo de conseguir algum efeito
positivo, o ambiente outoniço que se respira por aqueles lados apenas faz
desejar que o inverno passe depressa e que chegue a primavera.
(Artigo
publicado na edição de 23 de outubro, do Diário de Coimbra)
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