Parece uma contradição, mas neste tempo de forte contestação
aos partidos políticos há um novo partido a nascer a cada dia que passa.
O argumento dos seus parturientes é quase sempre de natureza religiosa,
querem a nossa salvação a todo o custo, e na sua apresentação há muito
da estratégia de marketing usada nas feiras populares, em que tudo é bom
e barato.
Confesso a minha
admiração por tão voluntariosos e altruístas criadores, apenas
lamentando em alguns dos casos, a gritante falta de imaginação
emblemática. Podiam, por exemplo, seguir o exemplo americano em que os
partidos são identificados pela imagem de animais. O Partido Republicano
tem como símbolo o elefante, o Partido Democrático o burro, o Partido
da Apatia o esquilo, etc. Para quem não conhece o Partido da Apatia
americano, do qual ainda não temos “filial” mas lá chegaremos, apresenta
como lema: “Na dúvida resmungue; em dificuldades delegue; quando
responsável pondere”, o que diga-se, em abono da verdade, é bastante
conforme à ação de muitas das ditas elites políticas que nos governam.
Mas
nós somos mais místicos e não nos guiamos por motivações tão
comezinhas, ainda que nalguns casos respeitemos máximas do mundo
empresarial. Por exemplo, o ministro da Educação e a ministra da Justiça
não correm o risco da demissão, porque deacordo com a Lei de Conway “Em
qualquer organização há pelo menos uma pessoa que sabe o que se está a
passar. Essa pessoa deve ser despedida.” É óbvio que nenhum destes
ministros sabe o que se está a passar e, como tal, está seguro no seu
posto.
Mas voltemos aos novos partidos e apreciemos os
seus fundamentos de pureza, que nos levam a recuar aosséculos XII e XIII
e ao movimento religioso que ficou conhecido pelo “catarismo”,
protagonizado pelos cátaros ou “puros”, homens perfeitos, que vivam
segundo os ideais de pobreza evangélica rejeitando, por exemplo as
mordomias do Parlamento Europeu. Dedicavam-se inteiramente às prédicas,
aos ensinamentos e ao aconselhamento espiritual dos seus concidadãos,
fazendo votos rígidos que se sintetizavam no consolamentum.
Ora,
como se vê, há hoje no nosso espectro partidário o surgimento de um
certo catarismo político que é uma incógnita eleitoral e que,
contrariamente ao que alguns pensam, é extremamente útil não só pela
inevitável desmistificação que vai permitir, mas também pela
demonstração de que há uma verdadeira ética de serviço político que não
se conforma com um verbalismo voluntarista puramente mediático.
Este
crescimento partidário de apregoada pureza cátara, que vai em sentido
oposto à taxa de desemprego refletindo, portanto, uma “recuperação” da
nossa vida político-partidária, faz lembrar, não sei porquê, uma frase
que um dia alguém disse, depois de uma ida ao estrangeiro: “A Suiça é
tão limpa, tão limpa, que até mete nojo.”
(Artigo publicado na edição de 9.10.2104, do Diário de Coimbra)
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