Li
há dias que o poeta francês Pierre Réverdy dizia que “não há amor, mas provas
de amor” e fiquei a pensar no assunto, nomeadamente na recorrente afirmação de
amor a Coimbra, por tanta e boa gente.
Aliás,
até me pareceu ter entendido recentes declarações do presidente da Câmara do
Porto, sobre o centralismo lisboeta quanto á utilização dos fundos
comunitários, como uma prova de amor a Coimbra, porque teve a lembrança de
referir, para além do norte, o centro como um espaço prejudicado pelas
políticas do poder central.
Claro
que muitas vezes estas afirmações de amor são meramente circunstanciais, com o mero
objetivo de ganho de escala, mas penso que apesar disso não as devemos
desprezar nem desperdiçar e que será bom aproveitar o balanço para reafirmar o
nosso desconforto com algum imerecido desprezo do Terreiro do Paço.
Digo
algum imerecido desprezo porque nós e as nossas elites locais não somos muito
convincentes em dar provas de amor à nossa cidade e por isso não temos
autoridade para grandes exigências. A grande tendência, bem evidente nas redes
sociais, é de valorizar o passado. São fotografias de espaços ou edifícios de
outros tempos que merecem o “gosto” mais rápido e numeroso, e são poucas as
referências a novas instalações ou a empresas inovadoras que são
verdadeiramente estratégicas ao nosso desenvolvimento.
Aliás,
nas cerimónias de exaltação pública dos nossos esquecemos, frequentemente, os
promotores de futuro. Por exemplo, há uma instituição como o Instituo Pedro
Nunes e um número significativo de empresas da área das novas tecnologias que
ali nasceram e que têm significativa projeção internacional e este facto é
praticamente desconhecido do cidadão comum pelo que seria importante que no Dia
da Cidade houvesse uma fórmula de reconhecimento e de exaltação pública do
mérito destes promotores de futuro.
É
que este é um motor invisível de desenvolvimento da nossa cidade porque, em boa
medida, muito do nosso sucesso coletivo passa por aí, e por isso devemos-lhe,
como prova de amor, trazê-lo para o campo da visibilidade, mais ainda porque
traduz exemplarmente uma ambicionada relação entre ensino, investigação e o
mundo empresarial.
Claro
que há pequenas atenções que são grandes provas de amor e que nos convocam a
comportamentos de gentileza e consideração para com a nossa cidade e, agora,
que aí vem mais uma Queima, seria bom que muitos daqueles que vão acabar a sua
vida académica e partir daqui, e que se dizem apaixonados por Coimbra lhe
dediquem mais do que uma bebedeira ou a destruição de bens públicos e que a
tratem com o respeito próprio do verdadeiro amor.
(Artigo
publicado na edição do Diário de Coimbra, de 5 de maio)
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