O
turismo e as sus implicações são matéria sobejamente conhecida pelo que não há
desculpas para a ausência de uma estratégia de cidade que permita não apenas a
sua plena rentabilização mas também evitar os seus efeitos nefastos.
Bastará
olhar para algumas cidades europeias com características idênticas à da nossa
Coimbra para ver os efeitos positivos mas também devastadores, que uma atividade
turística voluntarista e anárquica provocou no seu tecido urbano e na perda de
valores identitários.
A
classificação pela UNESCO, em 2013, de alguns espaços de Coimbra como
Património da Humanidade teve um extraordinário efeito indutor na vinda de
turistas, o que não terá merecido a devida consideração. É notória a ausência
de uma estratégia global e se a há ela não é minimamente conhecida da
generalidade dos cidadãos e de muitos dos atores económicos, que direta ou
indiretamente se relacionam com esta atividade.
Aliás,
a procura turística não parece que tenha a ver com Coimbra mas sim com o
edificado no Polo I da Universidade e também com a singularidade do Portugal
dos Pequenitos, restando um corredor de passagem ladeado por algumas lojas de
“souvenirs”.
A
cidade manteve-se igual a si própria, como se diz no futebol, fazendo gala de
continuar a enxamear os seus espaço públicos com carros estacionados
anarquicamente – a Praça do Comércio tem sido o exemplo mais gritante -, sacos
de lixo estrategicamente espalhados pelo chão aos fins-de-semana, uma oferta
gastronómica virada para o consumo interno (aos fins de semana é diminuta) e um
comércio tradicional desmotivado e desorientado.
O
que é sobretudo mais gritante é não só o desperdiçar das potencialidades da
cidade no seu todo mas uma ausência da compreensão coletiva do que está em
causa e, consequentemente, de que os turistas que nos procuram e que podem
trazer muitos outros esperam, para além de uma magnífica Biblioteca Joanina,
encontrar uma cidade capaz de honrar essa preciosidade através da qualidade das
suas infraestruturas e de uma performance cívica que rejeita a degradação do
espaço público, oferece beleza e conforto em cada recanto.
Perversamente
para muitos Coimbra tem mais encanto na hora da despedida, isto é quando se
livram dela, e não na hora da chegada em que não vislumbram o encantamento que
tem condições para oferecer, assim queiram os que nela habitam e trabalham.
Não
há dúvida de que o diabo está mesmo nas pequenas coisas.
(Artigo
publicado na edição de 19 de maio, do Diário de Coimbra)
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