Será verdade e por quê?
É
recorrente a afirmação de que Coimbra perdeu, nas últimas décadas, influência
no contexto nacional. Sendo esta uma convicção que foi fazendo o seu caminho e
que está adquirida, muito particularmente pelas suas próprias elites, não
haverá que duvidar.
Na
verdade Coimbra tem hoje uma menor visibilidade e uma menor representação nas
estruturas políticas a nível nacional, bem como uma menor notoriedade nos media nacionais. Há como que um
apagamento do papel que, ainda não há muito, representava para o país na
produção de ideias, de cultura e de formação de elites políticas.
Para
isto não será estranho o facto de ter deixado de ser a Cidade Universitária do
país, para passar a ser mais uma das cidades com universidade. Talvez, com
a instauração do regime democrático, nenhuma outra cidade tenha visto o seu
estatuto tão abalado como Coimbra. O fim da quase exclusividade daquele que era
o seu pilar fundamental de afirmação e à volta de que tudo girou durante
séculos, foi posto em crise e, consequentemente, gerou uma angustiante sensação
de perda, que até ao momento não foi totalmente ultrapassada.
Mais,
com a emergência da democracia representativa e por força da debilidade
demográfica do círculo eleitoral que encabeça, acabou por se situar no meio da
tabela em número de deputados o que lhe reduziu significativamente a
importância política e a capacidade de reivindicação.
E,
porque não há duas sem três, viu, no mesmo momento, a ambição do poder e o
poder do dinheiro concentraram-se na capital e, consequentemente, atrair muitos
daqueles que poderiam ser mais-valias para o seu futuro.
Em
conclusão, confrontada com novas realidades, mudanças profundas e aceleradas,
que geram sempre mal-estar, e porque estava acomodada a um certo protecionismo
e ao “chapéu” de algumas figuras tutelares, acabou por não encontrar a força
nem o saber necessários para se recolocar num plano equivalente àquele de que
até então gozava.
E agora?
Não
sei se há um manual de auto-ajuda para cidades, mas há formas evidentes de
diminuição da auto-estima coletiva, que têm, por aqui, sido cultivadas com
esmero. Uma das mais recorrentes é da realização de debates, tertúlias,
conferências, etc. sobre a cidade em que se produzem ideias utópicas ou
realistas, pouco importa, mas que acabam por nunca ter consequências. Fazem-se
Planos Estratégicos que ninguém conhece e que, contrariamente ao seu objetivo,
acabam por não ter qualquer consequência prática. Fazem-se campanhas eleitorais,
com programas, de que toda a gente se esqueceu no dia seguinte.
Depois,
e em complemento, não se conhece uma visão para o Município, apresentada por
uma liderança mobilizadora e que possa ser assumida coletivamente. Mais ainda,
a cidade tem um formato que leva a uma partilha de poderes que não permite
identificar claramente um líder. Soma-se a existência de um conjunto de
potenciais contribuintes para o enriquecimento cultural e cívico da cidade, que
até vive nela e também dela, mas que a entendem pequena e irrelevante demais
para o seu estatuto e ambições e como tal dispensam-se de lhe dar o seu
contributo.
Tudo
isto contribui para a dificuldade de aparecimento de uma política de esperança
coletiva. Reina uma lógica de curto prazo e uma liturgia do efémero que não
permite a emergência daquilo a que alguém chamou “política da posteridade”,
para mais quando o que faz mover as pessoas são sobretudo as energias negativas,
como a indignação e a vitimização.
Coimbra,
tem pois, uma má relação com o futuro e vive com dificuldades o seu presente,
sendo por isso, um desafio arrojado prescrever qualquer receita tendente a
inverter a assumida situação de redução de influência. Aliás, tenho a certeza
absoluta de que qualquer sugestão será sempre encarada com um sorriso
condescendente ou uma risada sarcástica.
Contudo,
para mim, tenho uma convicção: só será possível reverter a situação através de
políticas, concretamente políticas públicas, que assentem em dois pilares: CULTURA
e CIÊNCIA. Não tenho dúvidas de que é por aqui que passa qualquer estratégia de
desenvolvimento do Município e de afirmação regional e nacional de Coimbra.
Mas,
já agora, e porque são muitas vezes as pequenas coisas que suscitam os grandes
sentimentos e transformam vidas e cidades, por que não distribuir no dia 4 de
julho, Dia da Cidade, uma pequena bandeira da cidade, e em contraponto àquela
desculpa paradigmática que Goethe nos legou, através de Torquato Tasso e que
diz: “do que cada um é/ são os outros que
têm a culpa”, com a seguinte frase inscrita: “Coimbra vai ser melhor por
minha culpa.”
(Artigo publicado na edição de
aniversário do Campeão das Províncias)
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