Quando
se aproxima o tempo das listas estamos a viver sob o signo do pacote. As
Finanças revelando um inegável esforço de modernização e, decerto, sob
influência do jargão informático, decidiram criar não uma lista de
contribuintes VIP mas um pacote, um Very Importante Package. À partida não
parece muito simpático meter num pacote um conjunto de contribuintes, não soa
bem, mas a verdade é que não conhecemos ainda quem são os empacotados e, por
isso, não podemos tirar grandes conclusões.
Mas,
enquanto vamos vivendo as surpresas com que o governo nos vai brindando, temos
de nos preparar para as certezas que vão chegar: as listas de candidatos. É uma
fase que se aproxima, sem prejuízo de, no entretanto, já termos em constituição
o pacote de candidatos presidências. E ainda há quem diga que somos um povo
avesso ao planeamento e à organização. Mas as listas, sempre tão badaladas, de
candidatos a deputados, ainda que não estejam em elaboração formal, andam já a
ocupar o bestunto de muito boa gente.
Claro
que neste ínterim é bom também lembrar as listas negras em que estão aqueles
que não estando enfeudados a determinados “sindicatos”, não integram grupos de
interesse ou se atrevem a pensar pela sua cabeça. Alguns, para consolo,
descargo de consciência e demonstração de grande abertura, são, por vezes,
chamados para ornamentar as listas, sendo-lhes dada a enorme honra de fechar a
lista.
Aliás,
ninguém se pode surpreender que comecem a surgir, como cogumelos, ativistas
partidários que depois de um período de hibernação ou de calculado eremitério
se assumem como os esperançosos e exigentes representantes dos eleitores. Os
seus méritos serão confirmados no apoio aos dirigentes nacionais e na presença
sorridente e constante atrás do seu ombro, nas iniciativas partidárias. O
desejo de serviço e o amor aos eleitores vai transbordar em declarações sonoras
e imperativas e na afirmação de um passado de martírio ao serviço do povo, sem
esquecer práticas franciscanas e promessas salvíficas.
Desta
vez até vamos ter a necessidade de um “mapa partidário” para conseguir
identificar tantos novos partidos, para além duns casamentos de circunstância,
construídos tipo sistema planetário em que tudo roda à volta de uma estrela
mediática. Do que não nos podemos queixar, para já, é de falta de opções
eleitorais o que demonstra, paradoxalmente, que a má fama político-partidária é
motivo de empenhamento e não de afastamento de atores políticos.
Na
verdade, parece que vamos ter pacotes de partidos e consequentemente um mar de
listas e de possibilidades de aparecimento de profetas e salvadores, pelo que
temos de nos preparar para neste momento em que vivemos sob o signo do pacote
começarmos a viver a campanha das listas.
(Artigo
publicado na edição de 26.03.2015, do Diário de Coimbra)
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