No
seu barómetro anual, acabado de publicar pela Transparência Internacional
(www.transparency.org), sobre a perceção da corrupção no sector público,
Portugal aparece no 31.º lugar, entre 175 país. Se é uma boa ou má
classificação depende da perspetiva, mas que é um lugar simbólico lá isso é,
porque a corrupção é sem dúvida um grande 31. Claro que, para uma correta
compreensão deste ranking, é importante conhecer as metodologias utlizadas e
não ficar pela enunciação genérica que é excelente para título de jornal mas de
difícil entendimento quando, neste país das cunhas e de brandos costumes, se
fala permanentemente e em alta voz da corrupção.
Por
mim, devo confessar mais uma vez, que sou um homem de sorte porque lendo e
ouvindo tantas e tão variadas acusações de corrupção quando distraidamente no
espaço público - seja no autocarro, no comboio ou no café – oiço as conversas
dos meus vizinhos ocasionais nunca, mas nunca, os ouvi confessarem qualquer ato
menos correto, o que me leva a concluir pela minha boa sorte dado que os
malandros e os corruptos viajarão noutro autocarro, noutra carruagem ou estarão
a saborear a sua bica, que irá ser paga com o ignominioso dinheiro obtido de
forma nada transparente, noutro café ou noutra esplanada.
Por
outro lado confronto-me frequentemente com o azar de ver, no momento seguinte,
acusadores e mesmo “juízes” cuja opinião já transitou em julgado, sobre
terceiros a quem acusam de corruptos impenitentes, a desbarretarem-se e a
defenderem os réus que tinham condenado, quando se cruzam com eles ou obtém
aquele pequeno favor que tão criticável era quando concedido a outro.
A
questão da corrupção é sem dúvida complexa e o mais chocante é o envenamento
dos espíritos feito pelos verdadeiros corruptos que através da generalização,
se banqueteiam tranquilamente, em benefício próprio, com informações
privilegiadas, subornos, etc., prejudicando aqueles que enchem a boca com a
corrupção mas que são incapazes de a identificar e denunciar devidamente. Compare-se
o mundo das acusações diárias de corrupção e as condenações judiciais que são
tão raras que até duvidamos das estatísticas, parecendo que os números
conhecidos até foram corrompidos.
O
“jogo da corrupção” é, sem dúvida, um jogo difícil, hoje mais do que nunca,
muito por força de uma cultura da imagem em detrimento da substância, do
respeitinho pelo senhor da bela gravata ou carro de topo de gama, da ausência
de sansão social efetiva perante a cunha e o amigável desenrascanço, tudo isto adubado
por imprensa tabloide e uma utilização perversa das redes sociais.
Pois
é, temos aqui um grande 31 que mais do que combatermos andamos a maquilhar com
pseudo propostas e tonitruantes declarações de intenção. É que no nosso
“paraíso perdido” houve sempre uma cadeira, em lugar de destaque, para a Dona
corrupção.
(Artigo
publicado na edição do Diário de Coimbra de 4.12.2014)
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