1. Finalmente estamos a viver um momento de refutação da
afirmação romana de que na parte mais ocidental da Ibéria havia um povo que não
se governava nem se deixava governar. Hoje somos um povo que se deixa governar.
Aliás, tornámo-nos num povo que caiu na armadilha de querer ser governado por
estranhos.
Há
dias, o professor Eduardo Lourenço disse: “Fomos invadidos por uma espécie de
vampiros”. Só que, verdadeiramente, não foi uma invasão. O que aconteceu foi
que uns tantos vampiros locais criaram as condições e fizeram o convite à vinda
de vampiros estrangeiros, recebendo-os com a deferência e a subserviência que é
devida aos catedráticos destas coisas. Fomos nós que organizámos um baile
vampiresco no Terreiro do Paço. Trouxemo-los para dentro de casa e, agora,
demonstrando a nossa impreparação política, estamos sem saber como sair da
ratoeira em que caímos e não sabemos como os mandar embora.
Podemos
perguntar-nos: que mal fizemos para chegar aqui? Mas esta é uma dúvida como
aquela que alguns se colocaram sobre o que fazia Deus antes de criar o mundo e
a que alguém respondeu: “Antes da criação do mundo, Deus estava a preparar o
Inferno para quem faz esse tipo de perguntas.” Portanto sejamos otimistas quanto
ao pessimismo e tenhamos a certeza de que, por muitos anos, não vamos sair da armadilha
onde nos metemos, até porque mesmo que alguns dos vampiros mais visíveis se vão
embora, vão ficar os seus lacaios e controleiros para tomarem conta de nós.
2. Chegados a Coimbra, encontramos um PS tombado na armadilha
das decisões jurisdicionais para resolver problemas políticos. Problemas que um
mínimo de visão e de sabedoria teriam evitado. Parece que o PS/Coimbra resolveu
iniciar o século XXI com uma propensão suicida, a desbaratar o seu capital
político e o seu estatuto de partido referencial, levando a que cada vez menos acreditem
na sua capacidade de regeneração.
Mas
também por aqui nos temos vindo a deparar com uma maldição. Há uma maldição,
não pode ter outra explicação, que caiu sobre as obras públicas que acontecem na
nossa cidade. Foi a Ponte Europa e o Hospital Pediátrico. É o Metro Mondego e o
Centro de Congressos/Convento de São Francisco. Neste último caso ainda se
podem culpar os 600 esqueletos ali encontrados, mas na verdade é de políticos e
técnicos que dói adivinhar a incompetência. E nós que precisávamos tanto, não
só de ser património da humanidade mas também de ser exemplo de uma cidade inspiradora,
culturalmente vibrante, inovadora e competente, com capacidade de planeamento e
de organização, para ganhar o respeito dos que têm visão de futuro e a desejam
partilhar.
Já
agora, que este tempo de acerto de projeto e de obra seja aproveitado para
estruturar a gestão e o funcionamento de um equipamento tão importante. É o
mínimo que se pode esperar, para não cairmos na armadilha de ver uma boa ideia
transformada num insustentável e inútil elefante branco.
(Artigo publicado na edição de 27 de Fevereiro de 2014, do Diário de Coimbra)